terça-feira, 7 de setembro de 2010

FATO

Tudo o que tenho observado no campo dos debates é tão pouco esclarecedor que quase sempre mais constrange os próprios homossexuais, seus familiares, amigos e aqueles, simpatizantes ou não, que tentam compreender melhor o assunto. Com raras exceções pode-se ver e ouvir pessoas equilibradas, lúcidas, coerentes e amorosas em debates públicos, objetivando esclarecer com responsabilidade. Na maioria das vezes são reunidos em programas televisivos pessoas sem muito preparo, de áreas de atuação diversas e conflitantes, com o objetivo de ver “o circo pegar fogo”,  tudo pela conquista da cobiçada audiência. Quase sempre são travestis, pastores e/ou padres e médicos e/ou psicólogos, jornalistas etc., aos quais não são dadas as condições mínimas para o debate, falando todos ao mesmo tempo, desrespeitosamente, enfim, uma grande mixórdia. É óbvio que não tenho nada contra qualquer forma de manifestação humana. É que, não sei porque, sempre são convidados homossexuais afetados, isto é, homens afeminados ou mulheres masculinizadas, ou “ex-gays”, como se todos os homossexuais fossem assim, iguais na manifestação. Não são! Isso na cabeça da maioria das pessoas, que não estão acostumadas a observar e pensar e sim a absorver opiniões alheias, estigmatiza e forma o falso conceito de que a manifestação determina a orientação sexual da pessoa, a tal ponto que quando alguém discreto diz que é homossexual as pessoas não acreditam e até se assustam reagindo com aquela afirmação “nossa! as aparências enganam não?“. Existem homens impecavelmente másculos na voz, nos gestos e trajes e mulheres perfeitamente femininas, delicadas, sensíveis, igualmente nos gestos e trajes e que são homossexuais. Esses também deveriam ser convidados embora, devo concordar, estejam menos disponíveis e sejam portanto de mais difícil acesso, porque não querem se expor, prevendo o que poderia rolar num debate e suas conseqüências. Quem perde com isso são os homossexuais é claro, e a sociedade como um todo. E perdem naquilo que o ser humano pode ter de melhor. A dignidade.
Aliás debate, ao meu ver, é uma coisa muito burra; seja político, científico, filosófico, social, econômico, religioso etc. Nunca vi nenhum funcionar, no que diga respeito a obter os esclarecimentos, entendimentos e acordos fraternos pretendidos, baseados em respeito recíproco. A própria palavra debate já define a coisa em si mesma, ou seja, é “troca de opiniões durante a qual os adversários defendem com animação interesses opostos. Querela, discussão, altercação.” Essa animação muitas vezes termina até em pancadaria coisa bem pouco fraterna, didática e esclarecedora. Sou mais uma conferência ou uma conversa comum, onde as partes não atacam nem defendem, expondo suas idéias e convicções de maneira civilizada.
Até porque, meus queridos, não há coisa alguma a ser discutida. Existem sim fatos a serem constatados. A homossexualidade, como nos dias atuais, sempre existiu. Isto é um fato. E os direitos e deveres das pessoas homossexuais são iguais aos de todos os demais cidadãos. Obedecem a mesma constituição, direitos humanos, código civil, código de defesa do consumidor, estatuto do adolescente, códigos morais e éticos, tem a sua religiosidade e o cacete. Normalmente são excelentes filhos,  pais (de filhos legítimos ou adotados) e amigos. São quase sempre muito inteligentes e criativos. E, quando não prestam, também são sacanas, desonestos, criminosos e falsos como qualquer outro ser humano. Resumindo, a orientação sexual das pessoas não faz delas nenhum bicho de sete cabeças. Nem anjos, nem demônios.
É muito fácil julgar os outros e determinar o que é certo, natural, divino, etc. de acordo com o que nos parece lógico, principalmente quando não experimentamos nem vivenciamos as situações criticadas – é o famoso “pré conceito”. Acontece que existem muito mais coisas na natureza e entre o Céu e a Terra do que sonha a nossa ciência, filosofia e religião.
O que é certo é que para o homossexual uma relação heterossexual é tão anormal quanto uma relação homossexual para um heterossexual. Os sentimentos de estranheza e repulsa são igualmente intensos. A falta de compreensão e aceitação dessa realidade dá origem aos mais diversos e graves erros na abordagem e avaliação do assunto. Tenho experimentado e ouvido de muitos homossexuais narrativas do tipo “não rola", "me irrita", "tenho náuseas", "não me excita sexualmente", "prefiro a solidão", sempre que são convidados a mudar, mesmo experimentalmente o relacionamento sexual.  Não importa aí se o homossexual é ativo ou passivo. É sempre a mesma situação. Vejam bem, estou me referindo apenas à homossexualidade.
Conheço pessoas que não suportam determinados alimentos. Uns não gostam de carne vermelha, outros de frango, porco ou frutos do mar. Muitos não suportam legumes e/ou verduras. Tenho uma amiga que nunca na vida comeu macarrão e ninguém consegue sequer convencê-la de experimentar. Algumas pessoas, por serem alérgicas,  não podem mexer com a terra. Outras não suportam o vento, o frio ou o calor. Outras tantas não toleram os perfumes tão agradáveis às demais. Porque deveriam as pessoas no aspecto sexual serem iguais ou obrigadas à uma ação incoerente para consigo mesmas? Tem um ditado antigo (adoro ditados) que diz:- o que é do gosto é o regalo da vida.
Se eu tenho olhos castanhos e prefiro azuis basta adquirir um par de lentes de contato e mudar quando quiser. Se eu tenho nariz grande e quero pequeno, faço uma plástica e corrijo. Se eu sou mais gordo ou mais magro do que gostaria e quero inverter a situação posso, controlando a alimentação, obter os resultados desejados. Mas não posso restaurar um membro perdido, deformado ou que falte por motivos congênitos. Não posso mudar minhas impressões digitais, nem o formato ou a fisiologia dos meus órgãos e vísceras, nem tornar fértil um ser estéril, nem alimentar meu corpo com substâncias às quais ele seja alérgico, entre milhares de outras coisas. Concordo que quando se quer pode-se quase qualquer coisa. Mas do ponto de vista da orientação sexual levaria tanto tempo que talvez quando lograsse o objetivo já estivesse na hora de morrer. Vamos supor que eu conseguisse isso na atual encarnação. Morreria heterossexual masculino, gostando de mulher, e na próxima encarnação talvez nascesse mulher. Qual o sentido do sacrifício? Acho preferível ser natural e ser natural pra mim é ser o que sou, como a natureza me fez por determinação Divina. Deus fez a alma mas também fez o corpo a mente. Posso até acordar amanhã hetero ou bissexual mas, acreditem, terá sido uma milagre (determinação Divina).

Nenhum comentário:

Postar um comentário